Poemas, contos, imagens... palavras e silêncios. Mergulhos e naufrágios de AílaSampaio
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
A vida...
A vida não é previsível como um pacote de viagem que compramos para as férias, com datas de partida e chegada. Temos em mãos apenas a passagem de ida... o roteiro e o retorno estarão sempre suscetíveis a interrupções e mudanças.
Aíla Sampaio
Claridade
Não quero saber de amores que não saem ao luar nem passeiam com sua alegria pelos jardins ensolarados. Não quero lembranças encaixotadas nem sonhos que não possam continuar ao amanhecer. Nada de escuridões e medos que me obriguem a vendar os olhos... só quero amor que resista à claridade do dia!
Aíla Sampaio
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Solidão
Há muito pra esquecer: paredes retintas cicatrizadas nas retinas,
a confusão de vozes na varanda, o entra e sai de gente compadecida.
Tantas coisas pra não lembrar, mas elas insistem em viver nos destroços da minha memória!
Fosse fácil não ter medo, eu voltaria no tempo pra pegar a menina que eu fui
e colocá-lo no colo. Quando se soube para sempre órfã, escondeu-se em si mesma
como se se bastasse... Ninguém a protegeu daquela dor silenciosa e seca; ninguém viu sua solidão fazer-se eterna naquele dia.
Aíla Sampaio
sábado, 27 de agosto de 2011
Remendo
Às vezes sinto a mesma sensação de alguém que corre para pegar o trem, pula poças de lama, quase é atropelado na avenida, rasga a melhor roupa no portão enferrujado, toma susto com o cachorro que late por detrás dum muro desconhecido e chega à estação no exato momento em que as portas se fecharam automaticamente e o maquinista deu a partida... É certo que outro trem virá, mas será outra a emoção do embarque, da despedida... tudo será remendo, improviso... até a possível alegria será imprecisa.
Aíla
Pessoas infelizes
O problema das pessoas infelizes é não poder ver as outras felizes... Qualquer pessoa que alimente sentimentos e atitudes de maldade acaba trazendo a ela mesma o sofrimento e a infelicidade; consequentemente, vêm os problemas psíquicos, depressões, tudo oriundo de orgulho, soberba, luxúria, ira, gula, inveja, preguiça, vingança, ódio, rivalidades etc. Acaba se tornando vítima pra chamar a atenção, já que não conhece outro método para se fazer notar. Assim são as pessoas infelizes: por que foram mal amadas, amam mal.
Aíla
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
As expectativas
Se temos pressa de saciar a nossa fome, corremos o risco de provar somente a polpa ácida dos frutos verdes. O exercício da espera testa nossa capacidade de sobrevivência à ansiedade, mas nos permite alcançar, muitas vezes, a polpa sumarenta e doce dos frutos madurados. Se idealizarmos muito o sabor, entretanto, corremos o risco de ter uma decepção. O que nos frustra não são as coisas desejadas e não alcançadas, mas a perda da expectativa que criamos com a idealização delas. Não basta, pois, ser paciente; é preciso não construir castelos no ar, para que não desmoronem sobre as nossas cabeças. Além disso, tudo tem o seu tempo e nada muda se adiantarmos os ponteiros do relógio, pois a terra continuará a girar no mesmo eixo.
Aíla
Plenitude
Sensação de plenitude e liberdade... é assim que me sinto, como alguém que saiu de um estado de coma e voltou a si, renovada e dona de suas vontades. Bebo a vida com coragem, sem medo de embriaguez... puxo a venda que cegava meus olhos e descubro que, finalmente, recuperei o domínio sobre os meus sentimentos. Estou livre de qualquer jugo.
Rasguei as páginas em que estavam desenhadas as pessoas que me machucaram e soltei-as ao vento. Não quero sequer uma lembrança do que foi ou do que poderia ter sido. Recordações são heranças; em muitos casos, são sequelas, resquícios que não interessam. Nada como o tempo para nos fazer sentir o gostoso sabor das verdadeiras amizades. Se aprendi durante o torpor? A Tati Bernardi tem a resposta pronta: 'Aprendi a selecionar meus diamantes. Pedaços de vidro já não me enganam mais'.
Aíla
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
domingo, 21 de agosto de 2011
Ausências
Algumas ausências têm uma presença tão forte que parecem ocupar espaço físico em nossa vida. A memória tem um dispositivo que dispara ao menor estímulo e logo nos vemos revivendo, recordando, reordenando os objetos de desejo na prateleira das nossas prioridades. Amor é feitiço... dentre mil rostos só um paralisa realmente os nossos olhos.
Aíla Sampaio
Espelho
As pessoas que não têm generosidade, e só agem motivadas por interesses em benesses, nunca acreditam que os outros possam ser generosos gratuitamente. Reduzem sempre a humanidade à sua própria pequenez, porque, narcisas, acham que todos são o reflexo delas mesmas no espelho. Daí o sábio clichê: Na boca de quem é ruim ninguém é bom.
Aíla Sampaio
Paixão
Sou movida pela paixão... é pelas lentes dela que vejo a cor do mundo. Sem ela, fica tudo cinza, como se tivessem roubado as matizes que dão brilho aos dias. É esse sentimento embriagador que faz mais curtas as distâncias e mais breve o tempo. Bom demais escutar as batidas do próprio coração, sentir o estômago borbulhando pela simples menção de um nome, distrair-se na lembrança de um momento vivido...
Aíla Sampaio
sábado, 20 de agosto de 2011
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
sábado, 13 de agosto de 2011
Onde?
Onde as minhas certezas, o destino traçado e a predisposição para a felicidade? De repente essa saudade sem endereço ou destinatário me acorda no meio da noite, faz pequeno o quarto, e acorda lembranças do que não vivi, do que poderia ter vivido. Tão incerta me vejo diante do espelho! Vontade de me dar ordens e fugir, mas não me reconheço na imagem que sorri irônica da minha pretensão. Haverá ainda alguma saída? O vento passou e eu não vi quando a porta bateu com as chaves do lado de fora...
Aíla
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Desaprender-te
Para desaprender-te,
inventei manhãs nubladas
e sozinha bebi o cálice da amargura;
do silêncio me fiz cativa
como um prisioneiro em fuga
que se sabe sem saída.
Não há candura no esquecimento
a que somos obrigados.
Arrancar um amor do coração
é desvestir a alma e deixá-la em carne viva.
Aíla
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
A falta que me fazes
Quando me faltas, a manhã demora a chegar.
São escuras as noites em claro e confusas as madrugadas
profundas que jogam entulho em meus pensamentos.
Doem-me os olhos e as vontades quando compreendo
a lenta passagem das horas sobre o nosso silêncio
e o tumulto do dia sempre adiado da tua volta.
A falta que me fazes abre buracos enormes na aurora
e prolonga a sentença que condena minha alegria.
Aíla
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