sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Não há certo e errado




Nem sempre nos fazemos entender. Pensamos que somos transparentes, que os nossos olhos são janelas fáceis de atravessar, esquecidos que o outro nos olha com as lentes do seu próprio mundo, que recebe os nossos atos pela medida dos seus. Assim como recebemos os dele pela medida dos nossos. Não há certo e errado; há o que cada um julga como tal, de acordo com seu fórum íntimo, sua necessidade, sua luta para viver (na maioria das vezes em rio caudaloso sem saber nadar).



O que pensamos dizer nem sempre é o que se escuta; o que ouvimos nem sempre é o que foi dito. Assim, nessa diversidade de opiniões, sentimentos e egos, tantas vezes soterramos possíveis entendimentos, amizades preciosas, por conta de orgulhos feridos (que às vezes nem foram feridos, mas entendemos assim).


Enquanto vivermos na defensiva, não passaremos de meros soldados de guerra; tudo o que nos chegar parecerá ataque. Ou aprendemos a depor as armas ao ouvir e ao falar, ou viveremos em eterno combate, como se as relações fossem guerrilhas e não uma troca de afetos, onde se cresce na compreensão das diferenças e no calor dos abraços.

[Aíla Sampaio]

Quarta-feira de cinzas

Quando eu era menina e morava no interior, ia à missa todos os domingos, às 9h da manhã (a única missa celebrada na cidade), como uma obrigação imposta pela minha mãe que, certamente, fazia o melhor pelos filhos. Na verdade, eu queria continuar dormindo, mas entendia que castigos viriam da minha transgressão... a culpa católica me foi inseminada desde bem cedo. Nas quarta-feiras de cinza, a missa ...também era obrigatória. Nesse dia, se recebia a marca de cinzas na testa e com ela ficávamos até o pôr do sol. Só muito depois entendi o significado: o dia é um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passageira, transitória, efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte.
No Catolicismo Romano, é um dia de jejum e abstinência. Como é o primeiro dia da Quaresma, ele ocorre um dia depois da “terça-feira gorda” ou Mardi Gras, o último dia da temporada de Carnaval, a festa dos excessos, da fantasia. Na quarta, as pessoas voltam à realidade e assumem o seu ‘verdadeiro’ rosto, a vida como ela é. Independente de crença religiosa, a quarta, após um longo feriado vivido (ou não) na folia, é dia de um mergulho no mais íntimo do nosso ser para a conversão do coração. Todo dia é propício a recomeço, renovação, mas a quarta de cinzas é símbolo disso tudo. Carpe diem!

[Aíla Sampaio]

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Menina-pássaro



Para Fátima Perrone

Como um pássaro que teve o seu voo interrompido por uma ventania, como um relâmpago que riscou o céu com os seus raios,
tu fizeste repentino silêncio e, mesmo assim, te fizeste ouvir.
É que deixaste um rastro de luz por onde passaste
e tua história ficou escrita em cada coração que tocaste.
Agora, és um anjo no infinito, és um grito preso na garganta
dos que te amaram; és um poema inconcluso,
uma saudade sem alento.


Vai, menina-pássaro, ocupa teu espaço entre as estrelas,
ergue a tua bandeira pintada de alegria
e brilha encantada no firmamento!


Aíla Sampaio

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ter o que desejar nos salva do tédio...


A vida acontece sem autorização, mas só se faz valer quando a trilha é prazerosa e temos jogo de cintura para o inusitado. Enquanto ela corre, pontes vão sendo construídas, muros derrubados,mas também abismos se cavam interditando os caminhos. Nossas escolhas é que traçam os percursos... ou seria o destino? Enquanto interrogo, vou vivendo com minhas vontades de cheiro de flor, lençóis rescendendo a lavanda e terra molhada. Ter o que desejar nos salva do tédio... Andar é preciso, ainda que não saibamos bem aonde a estrada vai nos levar.

Aíla Sampaio

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Coisas do manual de sobrevivência emocional



Entre as muitas coisas que aprendi nesses anos, duas estão na primeira página do meu manual de sobrevivência nessa selva chamada mundo dos humanos. A primeira: “Não adianta discutir com quem tem sempre razão; as pessoas só escutam o que querem e entendem como lhes é conveniente”. E a segunda: “só os mais fortes cedem, os fracos não são capazes disso”.


Quem não sabe ouvir críticas, não é capaz de reconhecer erros e limitações, não se reconhece humano; certamente se acha superior a tudo e a todos, considera-se um Deus. Discutir com pessoas que têm essa postura é jogo suicida. É inútil argumentar, elas só ouvem o que o seu coração é capaz de apreender: maldade. Infelizmente, esse tipo é muito comum na sociedade atual: a genética predispôs o comportamento egocêntrico e o mundo o aprimorou. Quase sempre aparecem como cordatas e boas, ‘acima de qualquer suspeita’, vestidas em pele de cordeiro para disfarçar o lobo que trama botes terríveis se contrariadas as suas vontades. São pessoas perigosas, capazes de convencer a todos de que são boas e as outras não prestam... na verdade, transferem para as outras as características que são suas, tudo com traiçoeira sutileza. O pior: elas acreditam no que dizem e tomam suas ‘verdades’ como medida de tudo. É preciso ter cuidado; elas são ruins e nunca desistem de tentar nos convencer de que somos iguais a elas...


Na verdade, quem é ruim acha que todo mundo é ruim; vive como diante de um espelho, vendo-se como a medida do mundo. Como não adianta discutir, como não vale a pena tentar convencer os outros do que ocorre, a postura mais sábia é não se defender, não acusar, deixar que o tempo passe e a realidade se mostre, pois toda máscara um dia cai. O que falam a nosso respeito não muda o que somos, mas diz muito de quem fala... Os fracos continuam a bradar sua fortaleza, arrotar seu poder. Os fortes se recolhem ao silêncio e fazem suas as palavras de Chico Xavier: "Só o riso, o amor e o prazer merecem revanche. O resto, mais que perda de tempo... é perda de vida."


Os cães latem, a caravana passa e a gente continua sendo o que é, independente do que falam ou pensam. E assim caminha a humanidade… pra onde, só saberemos bem depois!


Aíla Sampaio






sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Primavera em pleno outono


Ele chegou trazendo a primavera nas mãos em pleno outono... Plantei todas as flores em nosso primeiro abraço e seremos, eu sei, o jardim um do outro em qualquer estação.

Aíla Sampaio

Meu destino


Seria mais cômodo ter nascido lago, ter escolhido a placidez natural dos que esperam quietos, mas nasci pra correr feito água de rio... são muitos afluentes até chegar ao mar, mas é ele o meu destino.
Aíla Sampaio