Faz tempo que não tenho notícias tuas. Na verdade, tenho evitado
saber, porque não quero ter certeza de que desististe de nós. Nem quero
que saibas ou que saibam que ainda me importo. Ando ocupada em fazer de
conta que o passado está morto, mas continuo a carregá-lo, a escondê-lo
por detrás das portas que nunca baterei. Sigo como se nada disso se
passasse comigo, como se não fosse minha a história que vivo.
Não sei se o que sinto é saudade. Se essa ausência que me abraça é tua
ou da certeza que me davas de que eu nunca mais seria sozinha. Fico a
imaginar onde deixamos a necessidade de ouvir a voz do outro todos os
dias, desde quando se perdeu aquela intimidade que nos permitia dizer o
que pensávamos e sentíamos a qualquer hora. Agora, não sei mais o que
acontece quando acordas, com quem conversas ou o que te falam, porque o
silêncio construiu um muro de incertezas entre nós. E como estranhos,
não temos o direito a perguntas ou questionamentos, nada podemos cobrar
sobre o que o vento traz aos nossos ouvidos e fere e que, por isso,
preferiríamos não ter escutado.
Faz tempo que nos despedimos pela última vez, e eu sabia mesmo que não
voltaria a ver-te, mas é como se aquele adeus se arrastasse no tempo e
não se consumasse de forma definitiva. Como uma hemorragia que não
estanca e sabemos que não suportaremos até sempre.
Lembro que nos
prometemos nunca nos perdermos, nunca deixar a distância crescer mais,
que fazíamos planos para o futuro como se ele fosse existir; não passava
pela minha cabeça que ele pudesse ser um abismo de lembranças. Esqueci
que o mundo gira e as peças do tabuleiro mudam, que os sentimentos, na
nossa idade, podem ser soterrados pela razão. Hoje, acordei com a tua
falta me habitando, com teu sorriso atravessando meus olhos como no
primeiro dia em que nos vimos... que posso, então, dizer-te, senão que
nunca, nunca me esqueci de ti?
Aíla Sampaio