quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Paisagem



Guardo na memória,
num arquivo inviolável,
o primeiro momento
em que os meus olhos encontraram os teus.
 
Como saído da moldura de um quadro,
teu sorriso destravou-me todas as portas
e entrou-me vida adentro sem pedir licença,
delimitando os territórios
e se apossando do meu tempo.
 
Passado, presente, futuro,
pouco me importa onde situo
teu rosto ou teu retrato...
é teu sorriso, desde então,
de perto ou longe,
a mais bela paisagem que contemplo. 

Aíla Sampaio

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Desenxergar


Quando tudo parecer escuro e sem saída, não tente inventar a claridade nem passar pelas janelas que o medo do desconhecido pode inventar ... às vezes a vida quer que mergulhemos no inusitado para desenxergarmos os caminhos da ilusão e encontrarmos a porta que nos levará ao nosso verdadeiro destino.



Aíla Sampaio

domingo, 23 de outubro de 2011

Sem aviso




Nada com aviso de provisório ou permanente me agrada. O tempo e as circunstâncias é que devem determinar a duração das coisas. Meu coração tem seu próprio calendário e não obedece às vontades ou determinações alheias.



Aíla Sampaio

Essa despedida presa em nossos olhos, como uma lágrima que não cai, é dor adiada, torneira que pinga à noite inteira e não deixa meu desespero dormir.



Aíla Sampaio

Crime inafiançável



Há quem conte sobre os amores que despertou, e aos quais não correspondeu, como quem lava o ego com as lágrimas alheias. A vida sempre adverte: cuidado, a vaidade cega para os abismos: é crime inafiançável brincar com os sentimentos dos outros. Quem faz do coração alheio um parque de diversões está comprando ingresso pra morrer numa montanha russa.


Aíla Sampaio

Coerência


O que nos dá coerência e credibilidade não é a palavra que empenhamos nem a atitude que tomamos, mas a perfeita sintonia entre elas. Falar e não fazer é como vender um mercadoria e não entregá-la.



Aíla Sampaio

Não me importa se numa bandeja de prata ou num caco de telha, desde que me dês inteira a deliciosa polpa do momento


Aíla Sampaio

domingo, 16 de outubro de 2011

Quando é hora de desistir pra recomeçar




Se é árida a terra e seca a semente, se não há mãos nem água para a rega, desiste de plantar, pois nada há de florescer. Recolhe as tuas armas e não mais lutes, que não és soldado de guerra. Quando não são retos os caminhos, de nada adianta esperar a hora certa; será sempre cedo ou muito tarde, serão vãos todos os gestos que a sede de vitória quiser te dar. É inútil toda colheita no deserto. Descansa, pois, teus pés e retorna ao ponto de partida. Na sombra, em outro chão, sob o manto de nuvens do qual caíste, poderás recomeçar, de asas abertas, a tua lida.

Aíla Sampaio

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Abraço


Que o meu amor caiba no teu abraço sem sobra ou falta de espaço.
Que me vistas com teu corpo e nele amanheças
como um dia ensolorado após uma noite de chuva.

                                          Aíla Sampaio

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

De mãos dadas com o desejo...


Quando o coração pede silêncio é porque precisa escutar apenas sua própria voz antes de mudar de direção. Às vezes, ele não quer saber de conselhos e sai por aí de mãos dadas com o desejo, esquecido das promissórias que assina pra pagar depois.

Aíla Sampaio

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Liberdade




Voam perdidos
pássaros teus dentro de mim.
E eu, gaiola de portas abertas,
ergo a bandeira da liberdade:
dou-lhes asas e um céu azul

para que partam se quiserem
para que fiquem apenas
se for por vontade
 terem-me como seu norte
ou seu sul...

Aíla




Finais de tarde




Bem que poderia ter sido diferente
mas tudo era pra ontem
e o nosso relógio
não tinha ponteiros;
fazia as suas horas
com a direção dos ventos.

Deu no que deu:
desencontros
desconfianças
festas demais
para poucos dezembros.

Resta uma saudade
quase aliviada
e uma sombra sem árvore;
um poema sem rimas,
nehuma explicação
e folhas de papel rasgadas
em todo final de tarde.

Aíla




sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Dor adiada





Essa despedida
presa em nossos olhos,
como uma lágrima que não cai,
é dor adiada,
torneira que pinga à noite inteira
e não deixa meu desespero dormir.

Esperar é um verbo impaciente
que não sei conjugar calada.
Se é pra ser, que seja logo;
ou que não seja de uma vez
se é inevitável partir.

Aíla Sampaio


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Simplicidade



Não me seduzem os discursos brilhantes, cheios de metáforas e alegorias, como a exibir pedras preciosas. Encantam-me as palavras sem roupa de festa, soltando o verbo e escanteando os adjetivos pomposos. Quem fala muito e rebuscado geralmente diz pouco. A grandeza, não se enganem, está no inusitado que se tira da simplicidade.

Aíla Sampaio

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Amores requentados

Amores requentados, na maioria das vezes, são indigestos. Se bater a fome, sirva-se sem contrangimento dos pratos fumegantes que a vida põe à mesa... sobras na quentinha sempre perdem o sabor.


Aíla Sampaio

Aquarela


Aquarela de Gabriela Seltz

Desistir de ti foi desistir das cores e me lançar ao preto e branco da vida. Só o tempo, com sua varinha mágica, pôde transformar o desbotado da tua lembrança em aquarela resplandecente.
 
Aíla Sampaio

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pontuação




Cansei de colocar vírgulas e reticências em situações da vida que não aceitam mais um depois. Se não há o que esperar nem dizer, ou se coloca o ponto final ou apenas se adia desistências, se pontua errado o texto da vida.



Aíla Sampaio