quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Prefiro a vida real

O tempo sempre me intriga. Ouvindo há pouco uma música, lembrei-me de um período da minha vida em que tinha certezas absolutas e a convicção de que elas durariam para sempre. Naquela época, seria impossível imaginar que a minha vida tomasse o rumo que tomou, haja vista as tais certezas tão abonadoras de caminhos bem diferentes. Se alguém pelo menos sugerisse que tudo aquilo era uma ilusão, que eu convivia com uma 'verdade' construída pelo meu desejo, não com a realidade, eu seria capaz de colocar o mundo de cabeça para baixo para provar que tudo aconteceria como eu imaginava, pois, em meu coração, não havia qualquer possibilidade de engano. Hoje, tanto tendo transcorrido, convenci-me de que o meu desejo romantizou a realidade, que eu poetizei as minhas crenças e me enredei numa teia ficcional, virando uma personagem da minha própria história... deixei a autoria com o destino que inventei pra mim. 

Como há nitidez em tudo quando nos distanciamos e rasgamos o véu da paixão pelo que criamos! Como enxergamos com clareza e percebemos o quanto estávamos embotados de falsas certezas, quando nos damos conta de que a verdade dos fatos bateu várias vezes à nossa porta, mas não quisemos abri-la para não perdermos o nosso sonho! Hoje piso o chão sem medo e acredito que os equívocos nos ensinam a caminhar com mais firmeza. É doloroso o aprendizado, mas é imprescindível. Prefiro a aspereza da verdade ao toque suave da mentira! Adoro a literatura e seu brilho, mas prefiro a vida real, mesmo ela sendo fosca.


Aila Sampaio