terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Perder-te II





Perder-te seria como voltar ao casulo sem mais possibilidade de virar borboleta; voltar ao marco zero do ventre que não mais fecunda. Eu só suportaria se pudesse dormir para sempre.

Aíla Sampaio



Fazes-me falta




Fazes-me falta quando, à noite,o silêncio das estrelas vira luz em meus olhos e não posso dividi-lo contigo; quando o sono se perde em devaneios e preciso abraçar o travesseiro para sentir a pulsação do meu próprio corpo noutro. Fazes-me falta quando amanheço atrasada para o dia e não há sol para aquecer-me, nem agasalho para o frio que gela as minhas mãos órfãs das tuas. As horas correm lentas, arrastando o tempo desperdiçado em saudades e jogando o inevitável em nossas vontades vãs. Cruzo os braços para ver a vida escorrer rápida e sigo em frente como se não carregasse comigo um espaço vazio, uma ausência tatuada a ferro e fogo no corpo e na alma.

Aíla Sampaio




Perder-te





Tu estás em mim 
como uma parte minha indivisível.

Perder-te seria mutilar-me.

Aíla Sampaio








Tudo





Dou-te a minha palavra.

Tudo o que sou está nela:
a minha verdade, coragem reinventada
nos sobressaltos do imprevisível,
e o meu poema: lírio inscrito na pedra.

Dou-te um novelo de peripécias 
e um grito que te pede 
socorro e zelo;
uma história sem fadas,
e teu nome escrito em minha boca
como um beijo. 

Dou-te o que me falta e o que me sobra,
o que me organiza e desordena,
a minha primeira alegria e a derradeira.
Dou-te, por fim, o meu momento 
e tudo o que restar da minha vida inteira.

Aíla Sampaio