“Faz tempo,
sim, que não te escrevo, ficaram velhas todas as notícias”, disse o poeta num
soneto à mãe nos anos 40. A velocidade do tempo sempre nos atropelou. As
notícias não caducavam rápido como hoje, mas já deixavam a sensação de obsoleto
naquilo que ouvíamos e vivíamos. Hoje, então, nada podemos reter nas nossas
mãos... Tudo é momento sugado pela fugacidade do instante.
Amadurecer é
acumular aprendizados com a idade e/ou as vivências. Mudamos, mas, em
determinados contextos, entendemos que
“ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Quase tudo o que criticamos neles aparece em
nós, como uma marca de nascença. Vamos nos transformando neles se não tivermos
o cuidado de refletir sobre o que realmente vale a pena ser preservado, pois a
herança comportamental não é uma imposição, pode ser aceita ou recusada de
acordo com as nossas percepções dos modelos que tendemos a repetir.
Os espelhos
denunciam as marcas do tempo em nosso corpo, e os olhares, seguidos do pronome
de tratamento áspero de senhor/senhora, nos dão o choque de uma realidade
irreversível. Saímos do palco para dar lugar aos nossos filhos e netos, às
gerações que se sucederam. É como se tivesse passado a nossa vez. Mas seguimos,
num lugar à parte, como atores coadjuvantes na peça que escrevemos. Esse é um
ciclo inevitável para quem não morreu cedo.
Aíla Sampaio
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