Pintei os lábios e as unhas de vermelho-sangue
e prendi os cabelos como se eles ainda fossem longos.
Disfarcei as olheiras, cobri meus medos
com bastante pó de arroz e fui encontrá-lo
já noite, temerosa do assédio de tantas luzes.
Nenhum de nós era mocinho, mas eu era a mulher
e prendi os cabelos como se eles ainda fossem longos.
Disfarcei as olheiras, cobri meus medos
com bastante pó de arroz e fui encontrá-lo
já noite, temerosa do assédio de tantas luzes.
Nenhum de nós era mocinho, mas eu era a mulher
e me embriagava fácil sobre os saltos altos
que desequilibravam minha segurança.
Na terceira taça de vermouth,
pedi que ele não me olhasse de perto
depois da meia-noite,
(quando tudo estivesse já se deteriorando:
o lápis borrado nos olhos, o batom desbotado, o rosto sem cor).
Não queria que me visse entre as flores
pedi que ele não me olhasse de perto
depois da meia-noite,
(quando tudo estivesse já se deteriorando:
o lápis borrado nos olhos, o batom desbotado, o rosto sem cor).
Não queria que me visse entre as flores
que começavam a murchar
no vaso da mesa ao lado.
Mas ele me olhou destemido do que o tempo
no vaso da mesa ao lado.
Mas ele me olhou destemido do que o tempo
já nos consumira e, naquele momento,
voltou o frescor das maçãs da minha infância.
Toda a paisagem reverdeceu
e fomos, outra vez, menino e menina
e fomos, outra vez, menino e menina
provando a ambrosia dos deuses.
Aíla Sampaio