Poemas, contos, imagens... palavras e silêncios. Mergulhos e naufrágios de AílaSampaio
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Pés no chão
Meu coração não gosta quando se desarrumam suas certezas. Aquieta-se logo, desencaixota seus guardados e limpa todo o bolor. Quer seu chão limpo de qualquer jeito e os pés bem apossados dele.
Aíla Sampaio
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Fim de festa
Num canto qualquer do coração fica a desordem
depois da festa.
Os balões estourados, a maquiagem borrada
e o gosto de ontem na boca.
Tanta música, tantos abraços
e, de resto, o vinho derramado no tapete,
a sensação indigesta de que tudo aconteceu em vão
e foi embora sem aviso e sem licença.
As palavras desceram pelo ralo, desencantadas
com os ouvidos poucos e a memória curta
de quem se dizia para sempre.
Se há dor? Acho que ficou dormente
e que o melhor é, por hora, fingir indiferença
até que ela venha mesmo fechar todas as portas.
Aíla Sampaio
domingo, 20 de novembro de 2011
Mea culpa
Façamos a mea culpa... o que acontece de negativo em nossa vida tem a nossa permissão. Quando abrimos a porta para que alguém entre na nossa casa-coração, devemos antes verificar a procedência, examinar a folha-corrida e não ignorar o sinal vermelho piscando. Se descuidarmos e permitirmos a entrada de gente falsificada, paguemos o preço com humildade e abramos mão de ter razão... pra que ter razão se o mais importante é ser feliz??? De tudo vale o aprendizado e o crescimento espiritual, afinal, até os pernilongos têm a nos ensinar...
Aíla Sampaio
Canteiros errados
Às vezes, vejo estarrecida que as flores que plantei floresceram como ervas daninhas e me pergunto como pude permitir... Uma voz silenciosa me sopra o aviso: 'Andaste regando os canteiros errados. A terra, em sua sabedoria, somente fará justiça às sementes que plantaste quando aprenderes a fazer o teu jardim com mais cuidado e souberes esperar a ação do tempo no seu tempo'.
Aíla Sampaio
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Aquilo de errado
Sabe aquilo de errado que as pessoas julgam que fizemos? É exatamente o que elas costumam fazer... Os olhos só enxergam do lado de fora o que vêm do lado de dentro.
Aíla Sampaio
O mundo todo
Quando a gente existe em alguém que também existe dentro da gente, o mundo fica todo povoado com apenas dois rostos.
Aíla Sampaio
Acontecer
Não sei ficar do outro lado da janela vendo a vida acontecer... vou pra rua e aconteço com ela.
Aíla Sampaio
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Constelações
Esse jeito teu de desenhar constelações
com as pontas dos dedos
e perder os olhos alma adentro
desmascara tua fragilidade
de pássaro sem asas.
Teu coração, como dia nublado,
fecha as portas e acende a lareira
todas as vezes que é preciso voar.
E eu, de longe te contemplo,
engolindo as incertezas do silêncio
e fazendo-me ninho pra ser um dia a tua casa.
Aíla Sampaio
Em preto e branco
Tu te arracanste de mim pela raiz...
na força bruta de um ceifeiro impiedoso
que tudo sega por desencanto.
Vivo, agora, como se não existisses,
vagando com tua ausência pela casa
e vendo tudo acontecer em preto e branco.
Aíla Sampaio
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Teus caminhos
Tu sabes que eu conheço teus caminhos, as veredas e todos desvios... sabes que sei que todas as estradas que vão a ti dão em nada...
Aíla Sampaio
Falsidade
Sou fácil de gostar. Meu coração elastece rápido; é crédulo e vê-se a si mesmo em cada outro. Estende tapete vermelho a quem chega, usa sua melhor louça e convida logo pra festa. Mas, descoberta qualquer fraude, se encolhe com a mesma rapidez, desgosta com a mesma avidez; recolhe o tapete, os pratos e os talheres, descrer irreversivelmente. Fecha-se com travas pesadas quando descobre gente falsa ciscando no quintal... Essa espécie sedutora engana bem... é como qualquer cafajeste que se preze: delicado e cheiroso, mas não vale o sapato que usa. Até pode saber chegar, mas nunca sabe sair sem bater a porta e sujar o tapete...
Aíla Sampaio
Coleta seletiva
Também a vida requer que façamos coleta seletiva de pessoas e emoções. Tudo o que nos maltrata deve entrar imediatamente no cesto dos descatáveis não-recicláveis.
Aíla Sampaio
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