segunda-feira, 6 de junho de 2011

Daqui a alguns anos...




Daqui a alguns anos, se eu estiver viva e lúcida, escreverei as minhas memórias. Certamente não vou querer me lembrar das pessoas que me machucaram, que não me compreenderam quando eu mais precisava ou que duvidaram da minha palavra e das minhas boas intenções. A elas eu agradeço hoje a oportunidade que me deram de reavaliar a minha vida e o entorno do meu dia a dia, a minha capacidade de selecionar as amizades e entender as limitações humanas. Não vou levá-las comigo nem nas recordações, vou libertá-las de qualquer sentimento de rancor, guardando-as na indiferença. Gosto de situações bem resolvidas, de nada deixar pra depois, pois o coração só pode ter espaço para o que foi bom, não deve estar contaminado de mágoas ou rancores tolos que, afinal, não nos levam a lugar algum! Ou nos levam... mas ao buraco negro da solidão e da descrença, lugar que não quero nunca visitar.



Quero me lembrar de quem me fez acreditar que a caminhada vale a pena; de quem, sem que eu esperasse, fez acender a minha crença no ser humano. Quero me lembrar e falar longamente sobre quem, num gesto simples, me fez sentir melhor do que sou, me fez ver que a felicidade é uma conquista de corações desarmados. Vou me lembrar, com saudade, de tudo o que me fez vibrar, de quem me acolheu e acreditou em mim quando outros duvidaram, de quem me levou às nuvens em instantes de prazer sincero. Quero guardar para sempre que contou estrelas comigo, quem contemplou o pôr do sol juntinho, quem andou descalço na areia da praia e correu pelo parque abraçando as árvores.

Nunca vou esquecer aqueles que seguraram a minha mão quando tropecei, que me advertiram quando andei à beira de abismos, que me protegeram em silêncio, que me guardaram em suas orações e me incentivaram a seguir a despeito de tudo... Quero guardar para sempre quem me fez rir à toa, quem me surpreendeu com uma palavra de carinho ou uma atitude generosa de aceitação das diferenças inevitáveis; quem respeitou a minha ausência e não fez dela pretexto para exercitar sua falsidade. Ficará eternamente em mim quem me fez sonhar sem falsas ilusões, quem leu comigo a poesia da vida e me inspirou versos de paz, versos de amor, os versos que escrevi com a alma e a minha mais absoluta verdade. Que o vento passa levar tudo o que não foi leve... que deixe somente em minha memória a graça da vida vivida por quem fez por merecer o meu afeto.

Aíla

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