sábado, 31 de março de 2012

Anjos gauches



São sempre marginais os que não se encaixam num modelo, os que não se ajustam às formas prontas, os que ousam contrariar o estabelecido e sacramentado pela maioria como correto. São marginais os que nasceram sem certificados de pedigree ou rasgaram-no ainda no berço esplêndido em que foram ninados. Não ter nascido para o conveniente, não querer viver apenas para suportar, não se ajustar aos apelos dos padrões é andar fora dos trilhos, rastrear os refugos, percorrer becos e vielas em vez de ruas pavimentadas. Não se faz escolha pra ser anjo gauche... nasce-se. São os sonhadores internados como loucos, os delicados massacrados pelas hecatombes da hipocrisia social; os que ambicionam apenas o poder da essência.

Eu que conheço todos os credos e ritos, todos os modelos de ser e não-ser, eu que só tenho a virtude de ser eu mesma, digo: benditos os marginais que já rasgaram o véu das aparências; benditos os anjos gauches, os sonhadores que acham, como eu, que o mundo não pode ser só isso, as pessoas não podem ser só isso que vemos...

Aíla Sampaio

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