Escrevo-te no escuro, como quem te
vê pela fresta,
e desenha com a memória as cenas
que a saudade vai buscar:
a mão no cavanhaque,
o olhar castanho debruçado na
varanda
e o jeito de combatente de guerra
que escuta ainda vozes perdidas no
tempo.
Ah, meu amor, deixa que eu sonhe, não
acendas a luz.
Quero dormir no teu colo como da última
vez.
Quem sabe, no silêncio, o filme volte
e eu possa recompor em pensamento a nossa
história.
Quem sabe novamente eu esqueça os brincos no criado-mudo
e o desejo entre os lençóis, para que
me encontres
em casa a qualquer hora.
Quem sabe, depois da minha partida,
ainda desatando os nós da despedida,
tu vejas meu olhar espalhado pela sala,
saindo sem vontade de ir embora.
Aíla Sampaio
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