sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Cena



Leves os teus dedos pela minha pele,
entre os pelos, entre os planos desfeitos e refeitos,
arrancando-me gemidos, certezas, dádivas, dúvidas.
Traço linha a linha o horizonte do teu corpo
como em tela pintando barcos,
como em argila esculpindo música;
em tuas calmas águas, em teus sedentos beijos
abrindo subterrâneos acordes
sob o branco dos lençóis.


É assim minha astúcia com as tintas
com que te pinto, com o barro com que te visto:
acordo cores em teu regaço,
desenho fontes onde escorrem mágoas.
Depois de feita a arte-final,
por medo ou desilusão, talvez,
esqueço a cena
e te contemplo apenas de longe
como uma tela que não pintei...



Aíla Sampaio - 06/08/10


2 comentários:

  1. Muito bonita e bem escrita!

    ResponderExcluir
  2. Bela ressaca de Machado de Assis, belo poema de Mário Quintana, belo quadro e belo poema a completar a cena. Uma ligação perfeita.
    Jorge Manuel Brasil Mesquita
    Lisboa, 11/08/2010

    ResponderExcluir

CICLO INEVITÁVEL

  “Faz tempo, sim, que não te escrevo, ficaram velhas todas as notícias”, disse o poeta num soneto à mãe nos anos 40. A velocidade do temp...