Ela sempre se apressa em mudar o rumo que os pensamentos tomam quando
atravessa a rua e sente a tarde cair sobre os flamboyants floridos. Há
qualquer punhal escondido sob o tapete de pétalas vermelhas que a faz
sangrar; há lembranças ainda úmidas da última primavera em que se sentiu
dona de um jardim. Talvez devesse jogar as recordações na primeira
chuva, para que o passado escorresse pelas quatro águas de sua memória.
Talvez devesse nunca esquecer que alguns amores já nascem com a data da
extremaunção; deixá-los vingar é permitir um crime contra a própria
felicidade.
Aíla Sampaio