quarta-feira, 27 de maio de 2020

PELA FRESTA




 Escrevo-te no escuro, como quem te vê pela fresta,
e desenha com a memória as cenas 
que a saudade vai buscar:
a mão no cavanhaque, 
o olhar castanho debruçado na varanda
e o jeito de combatente de guerra 
que escuta ainda vozes perdidas no tempo.

Ah, meu amor, deixa que eu sonhe, não acendas a luz. 
Quero dormir no teu colo como da última vez.
Quem sabe, no silêncio, o filme volte
e eu possa recompor em pensamento a nossa história.
Quem sabe novamente eu esqueça os brincos no criado-mudo
e o desejo entre os lençóis,
para que me encontres
em casa a qualquer hora.
Quem sabe, depois da minha partida,
ainda desatando os nós da despedida,
tu vejas meu olhar espalhado pela sala,
saindo sem vontade de ir embora.

Aíla Sampaio

Nenhum comentário:

Postar um comentário