sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Dono do tempo


Quando chegares, deita tua cabeça em meu regaço
e colhe a dia, como se fosses o dono do tempo.
É tudo teu: o quintal ensombrado,
a rede estendida na varanda e todas as minhas horas.
São teus também os meus olhos de criança,
que passeiam pela casa e pelo teu corpo,
como se andassem pelas ruas de Veneza.

Entra e come do meu pão e bebe do meu vinho,
sem desfazer as malas.
Rega a flor que plantaste e me diz umas poucas palavras.
O muro coberto de hera, a lua na calçada
e as libélulas 
escutarão teus passos
antes da madrugada.


Eu, não.
A espera me ensinou o silêncio,
mas não abalou a certeza da tua volta
(a qualquer hora).
Tu podes ir.
Só te peço que não digas nada.
Não olhes para trás nem batas a porta ao sair.

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