segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sarça ardente


Viver é susto, surto de melancolia,
relativa alegria do absoluto.
Calçar e descalçar sapatos,
chutar pedras e pegar a estrada
que pode dar em lugar nenhum
ou no lugar exato.

Viver é estar sempre desprevenido
munido somente de algum desejo;
é desmanchar-se dia a dia
como uma manta de que se puxa o fio
com o simples toque dos dedos.


Viver é fazer de todo amor o primeiro,
sem contar dores nem ausências;
é fazer de cada dia o derradeiro
plantar sarças sem querer ardências.


Viver é ancorar um navio em alto mar
e ficar à espera do inusitado
para só então navegar...

Um comentário:

  1. 'Viver é fazer de todo amor o primeiro,
    sem contar dores nem ausências;
    é fazer de cada dia o derradeiro
    plantar sarças sem querer ardências'

    Belo!!!
    Adoro teus escritos...

    .

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